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Em comemoração ao aniversário de 110 anos do paisagista Roberto Burle Marx, a Cepe Editora lança nesta terça-feira (27), a partir das 19h, em O Pátio Café & Cozinha (Av Rui Barbosa - 141), o livro Burle Marx e o Recife um passeio pelos jardins da cidade. No evento, a Orquestra Vitória-régia, sob a regência do maestro Parrô, também presta homenagem a Burle Marx. A obra reúne a história de 15 praças localizadas no Recife, acompanhadas de fotos e depoimentos de usuários ou simples transeuntes.

Confira a entrevista com os organizadores do livro, em que revelam detalhes e curiosidades sobre as praças e o trabalho de Burle Marx no Recife. 

 De onde surgiu a ideia de escrever sobre as praças do paisagista? 

Ana Rita: Quando fui fazer doutorado na Inglaterra, sobre parques urbanos, em 1991, os ingleses já sabiam da obra de Burle Marx e me perguntaram sobre ele. Foi assim que tomei ciência do compromisso que tinha e comecei a me debruçar sobre os jardins dele no Recife e no Brasil e outras artes do seu domínio.

Maurício: Eu vinha desde 2011 trabalhando no projeto de publicação de um livro que reuniria 50 espaços livres, dentre praças e parques da cidade.No decorrer do processo fiquei sabendo, através da imprensa, que dos 15 jardins de Burle Marx, seis haviam sido tombados pelo Patrimônio Histórico Nacional. A partir daí resolvi que deveria focar o projeto apenas nos jardins projetados por Burle Marx e comecei a ler as publicações já existentes a respeito.

Lúcia: A partir da pesquisa Espaços Livres do Recife, coordenada  pela professora Ana Rita Sá Carneiro, que gerou em 2000 uma publicação fruto da parceria entre a UFPE e a Prefeitura do Recife, comecei a entender a riqueza do patrimônio de Burle Marx no Recife. Meu interesse, então, foi despertado pelo trabalho de Ana Rita, que implantou na UFPE o maior núcleo de pesquisas sobre as obras de Burle Marx no Brasil e tem nos ajudado a enxergar, divulgar e proteger esse legado.

 Qual a importância de escrever sobre o trabalho de Burle Marx? 

Ana, Maurício e Lúcia: Só se protege o que se conhece. Livros, artigos, publicações de uma maneira geral são veículos que nos ajudam a difundir o conhecimento para despertar e sensibilizar sobre a necessidade de proteção de um bem. Neste caso, temos no Recife o início do trabalho do paisagista modernista. Roberto Burle Marx é o maior paisagista do século XX e mundialmente admirado. Ele deflagrou uma fase do paisagismo no Brasil e divulgou o Brasil no mundo. Para nós, divulgar a obra dele passou a ser, entre os estudiosos dos jardins e da paisagem, um compromisso.

 Burle Marx se dedicou exclusivamente ao projeto de praças? 

A.M.L: Burle Marx era um artista completo e esse olhar artístico se estende à compreensão da natureza quando desenha seus jardins. Ele é um artista de muitas artes que começa com a pintura, escultura, arranjos florais, criação de cenários, tapeçaria, desenho de jóias, desenho de figurinos para teatro, jardinagem, gravação, música. Burle Marx foi responsável por alguns dos marcos urbanos do Recife, onde assinou em torno de 40 projetos, entre jardins públicos e particulares, até 1990. A presença e atuação do paisagista no Recife foi determinante para sua formação. Até então só havia feito, no Rio de Janeiro, capital federal na época, o jardim da residência Schwartz, a convite do arquiteto Lúcio Costa.

 Além das praças listadas no livro, onde podemos encontrar mais trabalhos do Artista?

A.M.L: Em várias cidades brasileiras como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Florianópolis, Salvador, João Pessoa, São Luiz, Teresina, Fortaleza, Natal e vários países da América Latina, Estados Unidos e Europa. Em 2009, o lançamento da cartilha Os jardins de Burle Marx no Recife, para ser trabalhada em escolas públicas e privadas, e a criação do Comitê Burle Marx, composto por representantes de instituições públicas e da sociedade civil, dão início, oficialmente, a um processo de difusão de um trabalho iniciado em 2008 pelo Laboratório da Paisagem da UFPE, denominado Inventário dos jardins de Burle Marx no Recife.

Qual o primeiro trabalho de Burle Marx no Recife?

A.M.L: No no de 1935 ele projetou os jardins da Praça de Casa Forte e da Praça Euclides da Cunha (do Internacional). Sua ascendência materna explica a relação inicial que manteve com o Recife, onde teve oportunidade de desenvolver alguns dos projetos que lhe impulsionaram para a fama internacional. O paisagista chegou ao Recife em meados de 1934, atendendo ao convite de Carlos de Lima Cavalcanti, então governador de Pernambuco, para chefiar o Setor de Parques e Jardins da Diretoria de Arquitetura e Construção (DAC) do Estado de Pernambuco, que estava sob o comando do arquiteto Luiz Nunes. Nesse cargo, que ocupou de 1934 a 1937, Burle Marx vivenciou um rico período de projetos e experimentações, quando teve a oportunidade de desenhar mais de 10 praças públicas.

 Alguma modificação foi feita após o projeto do paisagista ou todas as intervenções de Burle Marx foram mantidas?  

A.M.L: Os projetos dele começam a ser executados em 1935 e a primeira restauração aconteceu em 2003, na Praça Euclides da Cunha, onde se conservaram as características originais para manter a ideia do paisagista. Houve a consolidação de um caminho interno ao jardim das cactáceas e alguma substituição de espécie do seu repertório.

 Quais as expectativas para o lançamento de Burle Marx e o Recife um passeio pelos jardins da cidade?  

A.M.L: Neste ano de comemoração dos 110 anos de nascimento desse genial paisagista, conhecido mundialmente como “O jardineiro da América”, temos uma grande expectativa de que possamos contribuir com a divulgação desse patrimônio  e de fazer despertar nos nossos leitores a consciência de parceiro no cuidar também de sua preservação. Que esse livro seja um veículo que leve o conhecimento de parte da obra do paisagista no Recife e desperte a sensibilidade para a sua conservação. Espera-se, principalmente, que possa ser trabalhado nas escolas desempenhando a função de instrumento de educação patrimonial.

Você pode adquirir Burle Marx e o Recife um passeio pelos jardins da cidade através da nossa loja online ou em qualquer loja física da Companhia Editora de Pernambuco.